01. Salty Eyes
02. Gold Morning Days
03. Blup
04. Petrichor
05. Dandelions
06. Nagmani (ft. Andre Barros)
07. Umbrae (ft. Noiserv)
08. Tierra Del Fuego: La Mar
09. Tierra Del Fuego: Nisshin Maru
10. Seven Seas
All songs by First Breath After Coma
Produced by First Breath After Coma and Filipe Rocha
Mixed and mastered by Paulo Mouta Pereira and First Breath After Coma
No álbum de estreia, The Misadventures Of Anthony Knivet, os First Breath After Coma abordaram o grunge e pós-punk com competência, possibilitando-lhes um reconhecimento da crítica e do público. Desta vez, em Drifter, o grupo leiriense aposta no pós-rock (influenciado por bandas como Radiohead, Foals, Sigur Rós ou Explosions in the Sky), misturando-o com sons naturais e outras referências dos seus integrantes. A principal característica do novo trabalho é a sua harmonia, pontuada pela voz suave de Roberto Caetano, gerando universos musicais diversificados onde coexistem a simplicidade e a procura de novas formas sonoras.
O single Salty Eyes sintetiza o espírito do disco, alternando o travo atmosférico inicial com uma conclusão pesada e a introspectiva Gold Morning Days realça a componente melódica do conjunto. A imponente Umbrae (com a participação de Noiserv) completa o lote dos melhores momentos do álbum. Globalmente, Drifter representa uma variedade de sentimentos que os First Breath After Coma souberam apresentar eficazmente.
Crítica de Pedro Salgado
Nota: 4 estrelas
Quem nunca pensou em largar amarras e vaguear meio mundo sem destino? E quem nunca se serviu da música para viajar a lugares longínquos? Drifter, segundo álbum dos First Breath After Coma, tem esse condão de nos guiar por terras inóspitas. E se, num profundo fôlego, fecharmos os olhos e nos deixarmos levar, conseguimos mesmo imaginar a aridez e beleza impiedosa da distante Tierra del Fuego, com todos os seus mitos e sonhos despedaçados de antigos navegadores.
A aventura e a descoberta foram, aliás, temas abraçados logo ao álbum estreia The Misadventures of Anthony Knivet, que em 2013 lançava os leirienses na sua própria cruzada na música portuguesa, calorosamente recebida pelos muitos fãs devotos e agora chegada à, sempre difícil, prova do segundo álbum. Neste ano em que tanto se tem falado de amadurecimento e crescimento nos novos trabalhos de algumas bandas portuguesas, os First Breath After Coma também não são excepção, e Drifter soa-nos mais intrincado e profundo que o seu antecessor, numa composição meticulosa onde nenhum arranjo foi deixado ao acaso.
“Salty Eyes”, escolhida para single de apresentação, é também a faixa que abre este disco depois de uma pequena intro. É possivelmente a sua música mais radiofónica, bem delineada e com picos certeiros de emoção que agarram o ouvinte à primeira audição. “Gold Morning Days” mantém-nos nessa mesma sensação de optimismo, mas é em “Blup” que sentimos que pela primeira vez as águas se agigantam, no poderoso crescendo instrumental final que desagua no delicado interlúdio “Petrichor”, onde o gotejar latente nos traz esse cheiro a terra molhada e as promessas de renovação das primeiras chuvas.
A bucólica “Dandelions” abre caminho para uma das mais belas composições deste disco, “Nagmani”, que contou com a participação do compositor André Barros, é como um novelo de arranjos harmoniosamente entrelaçados que vamos desfiando desde o piano pertinente até ao desfecho triunfal dos sopros. Ainda nas participações, Drifter contou com Noiserv em “Umbrae”, faixa que nos leva pela primeira vez a lugares mais sombrios, um registo que nos deixa vontade de ver ser mais explorado no futuro da banda de Leiria.
Por fim chegados a terras da América do Sul, “Tierra Del Fuego: La Mar” e “Tierra Del Fuego: Nisshin Maru” não negam a forte ligação ao pós-rock nos seus instrumentais apoteóticos, onde as guitarras nos recordam essa banda que em boa hora inspirou a música e o nome dos First Breath After Coma (e que este ano também nos surpreendeu com o muito aguardado novo álbum “The Wilderness”, falamos claro de Explosions In The Sky).
“Drifter” é algo ou alguém que vagueia pelo mundo em busca de qualquer coisa que não encontra raízes e não há nada de mais errante que a própria natureza, e este álbum está impregnado dela. Se assim como um dente de leão, que se perde no vento, também nós atravessássemos os sete mares até chegar ao fim do mundo, dificilmente encontraríamos melhor banda sonora como companhia.
Pontuação: 7,5
When the first beat skips, the second come stronger.
Após despertarem de um comatoso estado de criatividade com The Misadventures Of Anthony Knivet, os First Breath After Coma agarraram-se à vida e de que maneira…
2016 chegou e um grito pungente vindo das entranhas do ser ecoou. Foi Drifer que se ouviu. 12 músicas (uma bónus-track) cinemáticas, doze trechos de um argumento milimetricamente preparado e arranjado, doze poemas à procura de histórias que concluam a sua, a de Drifter dizemos, história e que história.
Situemo-nos no território de Hayo Myazaki. Príncipe do cinema de animação japonês e guardião do insofismavelmente magnificente “Princesa Mononoke”, Hayo criou, no filme referido, paisagens a que só sonho tem acesso. Magistrais, imperiais, profundas e épicas, tão épicas como uma Odisseia de Ulisses ou Drifter, “O Álbum”.
Se, na primeira audição, nos arrebataram da sonolência de uma Primavera pintada a cinzento chuva com uma “Salty Eyes” embrulhada numa voz que cavalga o silêncio montada numa folha de papel retirada de um livro de guitarras a atirar para o infinito. Há tragédia, há beleza, há música em plenitude…”Salty eyes, cry no longer. Listen to your mother. When the first beat skips, second becomes stronger”…
Muda-se a agulha em direcção ao segundo single, de seu nome “Umbrae”, aqui o épico da loucura atinge proporções bíblicas com um Noiserv de “fazer chorar as pedras da calçada” acompanhado pelo piano dos suspiros e um “coro grego” colossal no trabalho de atirar com a música para a eteriedade. E isto é bom, isto é muito bom e seria, já de si, o que de melhor Portugal ouviu este ano, caso não existisse a sétima música.
Abrimos um parêntesis para falarmos da electrónica utilizada ao longo de todo este Drifter, uma deriva como os próprios explicam, mas uma deriva com leme, sabendo o que se quer. Aqui, as potencialidades dos programas são tratadas com mãos de ourives, numa lapidação que nos dão chuva, espanta-espíritos, caixinhas de música e sonho, isso mesmo, sonho.
Voltemos às músicas. Passamos pela “Aurora Bureal” chamada “Dandelions” (dentes-de-leão), um missal nórdico em formato música que ao soprarmos nos deixa com um sorriso no rosto e um aperto no coração, tal a delicadeza com que se atira para os nosso braços. Antes, já “Blup”, num estilo mais próximo do pós-rock a que nos habituaram no álbum anterior nos lançar para um “cerrar de dentes” com o seu final regado a guitarras de “guerra”. Saltamos novamente, desta feita, para a frente, para a décima, para “Tierra del Fuego: Nisshin Maru” e as usa “trombetas” cinematográficas que coreografam o que nos esperará mais adiante. Segue segura, cheia de si e parte, num dedilhado ternurento de cordas a pintar caminho que se adivinha atribulado pela bateria que nos atira para um vórtex de pujança, de vontade, grita-se surdamente “estamos vivos e viemos para partir tudo, literalmente tudo”, e partiram.
E chegamos ao momento da perfeição. Da Vinci, se músico fosse, não faria melhor. “Nagmani” acompanhada pelo piano de André Barros é a personificação do mito, são os doze trabalhos de Hércules musicados, uma epopeia heróica percorrida em quatro minutos e cinquenta e cinco segundos de exaltação que nos atravessam e nos ficam a martelar na parte mais profunda do ser. Piano, metais, bateria sobre um tempero generoso de electrónica e guitarras apontam o caminho do topo da montanha, uma montanha onde podemos chorar, rir, odiar ou simplesmente amar, porque esta “Nagmani” é absoluta, absolutamente vida.
Fernando Gonçalves
Os First Breath After Coma assinam em Drifter, o sucessor da estreia The Misadventures of Anthony Knivet, um álbum em que os planares pós-rock envoltos em melancolia sonhadora ganham novas texturas electrónicas, como poderá ser testemunhado este sábado no concerto no Centro Cultural de Belém com que apresentarão em Lisboa o novo registo. Algures entre a ilha Sigur Rós e os navegantes Efterklang, aí os encontraremos – ainda que não haja vestígios de mar no vídeo de Umbrae (canção que conta com a colaboração de Noiserv) protagonizado por Rui Paixão, que integra a equipa do Cirque du Soleil.
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