Leiria Calling (CD)

Leiria Calling (CD)

OR 06/14

01. Nice Weather For Ducks – 2012
02. First Breath After Coma – Shoes For Man With No Feet
03. Bússola – Come Home
04. Les Crazy Coconuts – Belong
05. Born A Lion – What I Know
06. The Allstar Project – Abadeh (part II)
07. Nuno Rancho & A Few

CD out with Blitz
( 27 / 06 / 2014 )

Executive Producer: Hugo Ferreira
Recorded, mixed and mastered by João Santos, Nuno Rancho, Birgir Jón Birgisson, André Neto, Chris Common, André Barros, Pedro Santo, João Guerra e Pedro Augusto.

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Shoes For Man With No Feet

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2012

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From Pale to Red

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Abadeh (part. II)

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Belong

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Come Home

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What I Know

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Yesterday - The Uniter

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Slaves Of Sound

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Circustances

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Come Home

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Leiria

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Leiria Calling - Sessão 1

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Leiria Calling - Sessão 3

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Press & Reviews

Blitz - 2014-06-27

Nice Weather For Ducks
1. "2012"
12. "Spaceship"
Os Nice Weather For Ducks têm honras de abertura deste Leiria Calling com o primeiro single que editaram, tema que também dava início a Quack! , álbum de estreia editado pela Optimus Discos em 2012, e aquele com que se fizeram representar na coletânea Novos Talentos FNAC do mesmo ano. Oriundo dos arredores de Leiria, o quinteto de amigos que pediu o nome emprestado a um tema dos londrinos Lemon Jelly, dobra a sua participação no álbum que acompanha esta edição da BLITZ com o inédito e exclusivo "Spaceship", a 12ª faixa, que faz jus ao epíteto de "Animal Collective com canções" que ganharam aquando da sua apresentação ao vivo no Festival Monkey Week, em Cádis (Espanha). As inevitáveis comparações não poderiam ser de mais alta monta - além da banda de Panda Bear, os leirienses fazem música que tanto vai buscar influências aos Joy Division quanto aos Arcade Fire ou Vampire Weekend -, mas nada como ouvir as duas canções para retirar as suas próprias conclusões.

First Breath After Coma
2. "Shoes for Man with No Feet"
13. "Chamamento"
Também com duas participações em Leiria Calling , estão os First Breath After Coma, quarteto apaixonado pelo pós-rock (atente-se na homenagem aos Explosions In The Sky com o nome escolhido) que editou no final do ano passado o primeiro álbum de originais, The Misadventures of Anthony Knivet , onde se incluía "Shoes for Man With No Feet" (entretanto escolhido para segundo single). "Chamamento", a canção que encerra esta compilação é um tema inédito acústico, gravado em colaboração com Broto Verbo, projeto de Carlos Matos (ex-Ode Filípica), e do escritor Paulo Kellerman, ambos leirienses também. Nascidos das cinzas dos Kafka Dog, projeto que os levou a interpretar clássicos de bandas como os Doors, Joy Division ou Velvet Underground, os First Breath After Coma começaram a dar que falar ao vencerem o concurso de novos talentos musicais ZUS!, da associação Fade In, e o casting Vodafone Mexefest e chegarem também à final do Festival Termómetro.

Bússola
3. "Come Home"
Com o inédito "Come Home", os Bússola, projeto liderado por Pedro Santo, apresentam-se neste Leiria Calling como uma das grandes revelações da música leiriense, estando já apontados também para figurar na coletânea dos novos talentos da FNAC para este ano. O compositor, que acumula aventuras musicais que vão do rock (os Nome) à eletrónica (com os projetos Umbrella, em português, ou Lemur, em inglês) e mesmo pela produção de música para jogos de computador, tarefa a que se dedica de há cinco anos para cá, atirou-se a este novo projeto coletivo no ano passado, mas desde os 16 anos que toca em bandas. Com uma identidade vincadamente acústica, os Bússola, banda na qual Santo parece ter finalmente encontrado o norte, baseiam o seu som num conjunto de instrumentos que inclui acordeão e contrabaixo, além de guitarra e bateria.

Les Crazy Coconuts
4. "Belong"
Apesar de inicialmente terem pensado que o caminho era na conjugação do indie rock com o kuduro progressivo, os Les Crazy Coconuts fazem jus ao nome e apresentam uma mistura inusitada de música, apontada às novas tendências da canção pop/rock (de travo mais alternativo) e apostada em providenciar uma nova definição para shoegaze , com sapateado, ao mesmo tempo que garantem não gostar de rótulos. O trio, composto pela voz, guitarra e sintetizadores de Gil Jerónimo (dos Monomonkey e We Should Dance Anyway), a bateria de Tiago Domingues (Killer Texas Bee Queen) e "a bailarina mais linda" Adriana Jaulino, a marcar o ritmo com os pés, apresentou-se ao mundo no final de 2012 e está no momento a preparar-se para gravar o primeiro disco e participa neste Leiria Calling com "Belong", tema inédito no qual mostram os seus intentos musicais, melhor compreendidos, como se pode depreender da natureza do projeto, nos espetáculos ao vivo.

Born A Lion
5. "What I Know"
Com um percurso a roçar uma década de existência, os Born A Lion já se inserem na categoria dos "veteranos" deste Leiria Calling , tendo editado recentemente o terceiro álbum de estúdio, adequadamente intitulado III . O power trio faz-se representar aqui por "What I Know", a canção que apresentou o novo registo. Para ouvir alto, e em bom som, "What I Know" tem, como as restantes canções do sucessor de John Captain (2006) e Bluezebu (2009), a marca do amigo Chris Common, ex-These Arms Are Snakes e colaborador de projetos como Le Butcherettes ou Chelsea Wolfe, que masterizou III em Los Angeles. Rock até ao tutano, os Born A Lion juntam influências blues e de nomes como Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple, Cream ou os mais recentes Danko Jones (cujo primeiro álbum se chamava precisamente Born a Lion ) para fazer música que "não é para meninos" e que já lhes abriu portas fora de Portugal (já passaram por Espanha e andaram duas semanas pelo Brasil, em 2007).



The Allstar Project
6. "Abadeh Part II"
2015, garantem, assistirá à chegada do terceiro álbum de estúdio dos Allstar Project, coletivo pós-rock com mais de dez anos de percurso que é encarado como "a banda que mais influenciou a nova geração de músicos de Leiria". O quinteto raramente se apresenta ao vivo, apesar de nunca ter parado de ensaiar e de ter marcado presença em festivais internacionais, mas isso só fez com que a mítica em seu redor crescesse. "Abadeh Part II" é a canção que antecede a edição daquele que será o sucessor de Your Reward... A Bullet , editado em 2007, e Into the Ivory Tower , de 2011. Uma fórmula que junta três guitarras (uma das quais defendida por Nuñez, elemento fundador que partilham com os Born A Lion), e muitos pedais, fá-los ombrear com bandas como Mogwai, Explosions in The Sky ou God Is An Astronaut, projetos com os quais já partilharam palco.

Nuno Rancho & A Few Fingers
7. "From Pale to Red"
Depois de vários projetos - a solo, editou no ano passado o terceiro EP, intitulado 9559 ; acompanhado, apresentou-se como vocalista dos Team Maria e colaborou também com os V-Men e Texas Killer Bee Queen -, Nuno Rancho atira-se a canções simples e despretensiosas com A Few Fingers (o companheiro, desta vez, é André Pereira (com quem também trabalhou nos Team Maria). A preparar o disco de estreia, a dupla já mostrou ao mundo "From Pale to Red", canção inédita integrada em Leiria Calling que conta com Tiago Domingues, dos Les Crazy Coconuts, na bateria. Rancho, que aponta os Radiohead como uma das suas principais influências, foi apontado como novo talento pela FNAC em 2009, um ano depois de editar a solo Unready Demo e de nascerem os Team Maria. Em 2011, editaria, novamente a solo, The Living Room is Alive . O músico pretende alargar este novo projeto para o levar aos palcos, contando ter uma banda composta por cinco elementos.

André Barros
8. "Circustances"
André Barros escolheu o piano como instrumento de eleição quando, depois de terminar o curso de direito, percebeu que queria aprender a tocar algo, inspirado pela música de Yann Tiersen. Autodidata, o músico da Marinha Grande começou a compor para piano e cordas enquanto tirava um curso de produção musical que o levou a estagiar como assistente de engenheiro de som no estúdio dos Sigur Rós na Islândia. Foi precisamente lá que Barros terminou o seu álbum de estreia a solo, instrumental, editado no ano passado. "Circustances", a canção presente em Leiria Calling , é o tema-título de um registo que a BLITZ, nas palavras de Lia Pereira, apelidou de "espaçoso": "por vezes de uma desolação que nos remete para paisagens gélidas", ou não contasse com o nome de Birgir Jón Birgisson, produtor da banda islandesa, nos créditos. A experiência no país nórdico, "tão belo como misterioso", continuou, com Barros a compor música para o filme Ruins, do realizador local Vilius Petrikas

Yesterday
9. "The Uniter"
Vencedor do concurso Termómetro Unplugged em 2006, ano em que os conterrâneos Born A Lion se classificaram em terceiro lugar, Yesterday, projeto solo de Pedro Augusto, regressa em 2014 com novo álbum. É precisamente de The Waiting , disco escrito, gravado, produzido e misturado pelo próprio, que retira "The Uniter", a canção escolhida para o representar em Leiria Calling . Começou a gravar em casa em 2001 e desde então gravou quatro álbuns que nunca chegaram a ver a luz do dia - considera-se "um músico de estúdio, mas não um músico indie" - e um, intitulado You Are the Harvest , que disponibilizou gratuitamente há dois anos. Marcando um período entre o verão de 2012 e o início deste ano, The Waiting , que pode ser descarregado gratuitamente, diz o músico, "fala da esperança, constantemente renovada, da espera e, às vezes, da sua negação". Em termos musicais, as novas canções conjugam um registo mais acústico e as novas tendências eletrónicas, cocktail que fica bem claro na canção incluída na coletânea.

Les Enfants Terribles
10. "Leiria"
A trabalhar à porta fechada de há um ano para cá, a dupla Les Enfants Terribles chega a Leiria Calling com uma carta de amor, inédita e exclusiva, à cidade. O tema, intitulado simplesmente "Leiria" junta as guitarras de João Guerra (do projeto Quarto de Hóspedes e Royal Rendez Vous) e Pedro Costa (Horse Head Cutters) para um duelo instrumental de quase quatro minutos. Apostados em tornarem-se para a cidade que os viu nascer aquilo que os Dead Combo representam para Lisboa, os Les Enfants Terribles são um dos benjamins de Leiria Calling . As duas guitarras, entre as quais às vezes se intromete uma melódica, ajudam a construir uma sonoridade que transpira Portugal por todos os poros mas que podia perfeitamente servir de banda-sonora de um western spaghetti, mesmo quando ganha contornos mais efervescentes em canções como "Passeio dos Tristes" ou "Viúva de Maio".

Horse Head Cutters
11. "Slaves of Sound"
Apesar de existirem há quase uma década, só se estrearam no ano passado com um EP (edição de autor) que partilha o nome com o tema que agora é incluído em Leiria Calling . Adeptos do "rock enérgico e furioso" com influências resgatadas às décadas de 60 e 70, os Horse Head Cutters são Z. Mutt, na voz e nas teclas, Pedro Costa (uma das metades dos Les Enfants Terribles) na guitarra, Dirty Gomez no baixo e harmónica e Paulo Ladeiras na bateria e estão neste momento a gravar o primeiro registo longa-duração. Habituaram os seguidores a longos solos de guitarra, que esticavam as canções bem para lá dos dez minutos de duração, mas com o tempo foram aprendendo a moldar a sua música para a encaixar num álbum de estreia que poderá ver a luz do dia ainda este ano ou em 2015. No entretanto, querem ganhar traquejo em palco e têm vontade de extravasar as fronteiras da cidade que lhes serviu de berço.

Artigo de Mário Rui Vieira

Ver em Blitz
Preguiça Magazine - 2014-06-26

Seria estranho continuar a ignorar um punhado de artistas da região de Leiria que estão neste momento a produzir música com um nível de qualidade bastante alto. E sabem o que é ainda mais interessante? É a quantidade de muitas outras bandas que ficaram fora desta compilação, mas que podiam perfeitamente lá estar. A zona está criativa e recomenda-se.

Há muito que já passou aquela fase de que se não saiu no jornal x ou y, é como se não tivesse existido. A tecnologia, no seu pendor globalizante, encarregou-se de isolar quem se acha ao centro e difundir as restantes áreas que se encontravam à margem, fossem elas áreas geográficas ou estéticas.

Tal como disse o filósofo francês Gilles Lipovetsky e o seu homólogo Jean Serroy, a cultura transformou-se num mundo cuja circunferência passou a estar em todo o lado e o centro em lado nenhum. Há, portanto, vida para além da estação de serviço de Aveiras.

Leiria, como região de um país periférico, não escapou à tendência de outras latitudes, e se hoje assiste a uma dinâmica cultural com cada vez mais expressão – sobretudo devido à iniciativa privada -, o certo é que muito começou nos anos 90.

Daqui saiu uma geração e, volvidos 20 anos, parte dela especializou-se e seguiu inclusivamente uma carreira no mundo do espectáculo – o que inclui tanto criadores como produtores; ao passo que outra parte abandonou por completo o mundo mais melómano. Continua, no entanto, a haver um público que ainda hoje, de um modo mais focalizado, ainda mantém o interesse em actividades culturais.

Na recente edição da compilação deste ano dos Novos Talentos Fnac 2014, por lá figuram três bandas da região, e agora, por iniciativa da editora leiriense Omnichord Records, em parceria com a revista Blitz, concretiza-se a divulgação de uma compilação.

Este lançamento também pode – e deve – ser encarado no seu todo, ou seja: por acaso os seus executantes têm todos em comum uma determinada origem geográfica, mas podia passar perfeitamente por um conceito Printemps – Été 2014, como tem a revista musical francesa Les Inrockuptibes, tal é a solidez dos projectos nela contida, o que lhe pode conferir uma amostra nacional da temporada, neste caso através da revista Blitz.

Quer isto dizer que há uma “cena leiriense”? Um som marcadamente leiriense, esse não há, pois é muito diverso e seria tarefa inglória meter no mesmo espartilho uns Horse Head Cutters com o André Barros. A complexidade da criação de “cenas” tem muitas variáveis que a sociologia pode explicar melhor, mas, para já, há sim um critério de validação que é o registo sonoro, cujos veículos de legitimação são a editora Omnichord e a revista Blitz. Isso deve significar qualquer coisa.

Quanto ao alinhamento, não se espantem se já conhecerem grande parte das canções, pois a Preguiça Magazine, ao longo das suas edições, encarregou-se de divulgar – por vezes em primeira mão – muitos dos artistas agora em destaque. Cabe agora ao admirável público de outros lugares, tomar conhecimento. E entretanto o melhor é ficarem atentos, pois mais vídeos a estrear surgirão aqui muito em breve.

Já agora, um apelo à navegação: nesta compilação há apenas uma mulher envolvida: a Adriana Jaulino, dos Les Crazy Coconuts, capa da nossa Preguiça em papel. Ficamos à espera do vosso envolvimento. O toque feminino é fundamental, girrrrls.
Alinhamento:
1. NICE WEATHER FOR DUCKS
2012
2. FIRST BREATH AFTER COMA
Shoes For Man With No Feet
3. BÚSSOLA
Come Home
4. LES CRAZY COCONUTS
Belong
5. BORN A LION
What I Know
6. THE ALLSTAR PROJECT
Abadeh (part II)
7. NUNO RANCHO & A FEW FINGERS
From Pale To Real
8. ANDRÉ BARROS
Circustances
9. YESTERDAY
The Uniter
10. LES ENFANTS TERRIBLES
Leiria
11. HORSE HEAD CUTTERS
Slaves Of Sound
12. NICE WEATHER FOR DUCKS
Spaceship

Texto de Pedro Miguel

Ver em Preguiça Magazine
FESTMAG - 2014-02-03

Alexandra Silva falou com Hugo Ferreira, um dos timoneiros da editora, que desde os comandos da Rádio Universidade de Coimbra nunca deixou a música.

A Omnichord Records é uma editora discográfica independente que surgiu em Leiria no ano de 2012. Representa vários músicos – Nice Weather For Ducks, First Breath After Coma, André Barros, Horse Head Cutters, La Inesperada Sol Dual, Les Crazy Coconuts, Team Maria, The Allstar Project – e pauta o seu trabalho pela dedicação aos sons mais alternativos que nas margens do Lis têm surgido nos últimos tempos.

Como surgiu a ideia de criar uma editora de independente?
A ideia de criar a Omnichord surgiu um bocado da constatação de que, assim de repente, em Leiria, estava a aparecer um movimento repleto de boas ideias e de boas iniciativas que, por sua vez, gerou e está a gerar belíssimas experiências musicais. A cidade que muitas vezes é mal-amada ou pura e simplesmente ignorada pelo resto do país e que não consegue minimamente fazer lobby e ganhar alguma preponderância tem características extremamente peculiares. É um dos maiores centros produtivos do país, com milhares de empresas (muitas exportadoras), com a mais baixa taxa de desemprego do país e com uma vida cultural desenvolvida sobretudo através de associações sem fins lucrativos. Leiria é, sobretudo, uma cidade e uma região onde as pessoas se juntam e fazem acontecer. Sem subsídios e sem conseguirem chegar ao resto do país mas continuam a fazer.

A localização da vossa editora no centro do país é um fator adverso ao vosso trabalho ou por outro lado até podem precisamente beneficiar dessa centralidade?
É complicado chegares a Lisboa e quando dizes que és de Leiria toda a gente faz aquela expressão “Ah, lá de cima…”. Aqui entre nós ao fim da tarde desde Lisboa é mais rápido chegar a Leiria do que a Sintra ou a Setúbal e podem escolher entre duas autoestradas. Estamos a uma hora e pouco de distância e para a grande maioria das pessoas estamos longe. Isto não se passa só em relação a Leiria, Coimbra se não tivesse o Hospital e a Universidade tinha o mesmo problema (como Aveiro tem). Nunca olhámos para o nosso país como um todo e limitamo-nos a falar, a consumir e a aplaudir o que é feito em Lisboa e no Porto. Com esta bipolarização perdemos alguns dos melhores projetos que por cá se fizeram e que foram votados ao abandono e ao esquecimento, olhe-se para o Festival Imago, por exemplo. É preciso redefinir e reatualizar o mapa e, se com a Lovers & Lollipops e o Milhões, Barcelos entrou no mapa, acho que outras cidades têm que tomar o exemplo e mostrar ao país que elas também respiram e respiram melhor. Respondendo à questão, podemos beneficiar da centralidade se formos vistos como um possível centro e não como um apeadeiro onde há uns restaurantes porreiros e se faz uma escapadinha porreira da autoestrada. O nosso trabalho é tentar mostrar o que cá se faz, acreditamos que qualquer um dos nossos projetos tem condições para pisar qualquer palco porque só editamos música que gostávamos de comprar, de ver ao vivo e de oferecer aos amigos.

Ainda assim tem muita coisa a acontecer.
Tens vários exemplos de atividades únicas no mundo como o Entremuralhas – um festival multidisciplinar no Castelo com três palcos cheio de belíssimas propostas musicais e com um público 70% internacional, o Há música na Cidade em que desde o rancho ao rapper todos tocam para a cidade numa tarde em que há mais de vinte palcos e dezenas e dezenas de concertos gratuitos. A revista online Preguiça Magazine. Foi por cá que nasceram os chamados “Concertos para bebés” e é por cá que tu ainda consegues ter pelo menos uma noite por semana em que danças numa pista cheia ao som de temas alternativos que vão do pós-punk ao indie, do electro ao industrial. Desde há mais de dez anos há concertos únicos feitos pela Fade In assim como projetos com escolas e a geração de espectadores tem crescido e tem feito música. Estes são alguns dos fatores que levam a que, depois de fenómenos como os Silence 4 ou da belíssima carreira de Sean Riley & The Slowriders haja uma nova vaga que urge dar a conhecer.

Que papel pode ocupar uma editora como a Omnichord?
Em Leiria já existe há muito uma editora, a Rastilho, que tem um trabalho exemplar e de referência a nível nacional. Nós tentámos colmatar a lacuna para promover o que se vai fazendo localmente, gravando (temos o estúdio do João Santos dos The Allstar Project, onde se fazem maravilhas) e representando para concertos, numa lógica de voluntariado onde não ganhamos nada (e investimos bastante) porque acreditamos que há aqui um movimento interessantíssimo que precisa de ser ouvido.

De onde surgiu a ideia para o nome?
O nome Omnichord surgiu do fascínio pelo instrumento da Suzuki que se chama precisamente Omnichord e que foi concebido para ser tocado mesmo por quem não tenha noções de notas e de pautas e que é usado pelos Nice Weather For Ducks (podeis ver e ler cenas em http://en.wikipedia.org/wiki/Omnichord). Tem belíssimos sons e acaba por ser um elogio ao “do it yourself” e à paixão pela música com que a maioria das bandas tem que contar hoje em dia.

Regra geral são vocês os “olheiros” ou as bandas procuram-vos?
Pode funcionar das duas formas mas confesso que centralizar a atividade de gestão e promoção de edições e de concertos e agenda de todos estes projetos num rapaz com muito boa vontade mas que tem um emprego que lhe ocupa mais de 10 horas por dia e família não é fácil e cada vez sobra menos tempo para ouvir (e responder) às propostas que chegam. Também é cada vez mais difícil sair para ver concertos todas as semanas por isso vamos estando atentos ao que se vai fazendo e procurando sempre ver as bandas ao vivo. Acreditamos na lógica de que, para além de boa música, a banda tem que ser muito boa ao vivo e é por isso que muitos dos nossos discos foram e serão gravados num fim de semana, com três takes ao vivo do mesmo tema e o melhor fica. Depois é só vozes e uma ou outra coisinha e está pronto para ir ao forno.

Para onde achas que está a evoluir o mercado musical?
O mercado está a definhar e a desaparecer e com a ressalva de uma dúzia de nomes mais ninguém consegue viver da música. Para começar, gostava que se encarassem as coisas feitas em Portugal da mesma forma que se encara o que aparece de fora. Ou se é um nome consagrado e se pode fazer o que se quiser ou para uma banda em crescimento é muito difícil dar passos e ser apoiada no mercado nacional. Sempre que alguém lança um disco cá há muito aquela tendência do “É parecido com isto, lembra-me aquilo, de original não tem nada…” Um exemplo curioso, “Os Nice Weather For Ducks foram buscar o nome a Lemon Jelly” ou “First Breath After Coma é um nome de uma música dos Explosions In The Sky” são epítetos recorrentes para se começar a falar das bandas. É curioso mas não me lembro, assim de repente, de apresentarem uma banda de fora a mencionar esse facto. Assim de repente, Suede, que vem de Morrissey, Blonde Redhead, que vem dos DNA, Radiohead que vem dos Talking Heads, Ladytron que vem dos Roxy Music, Kooks que vem do Bowie, Madness que vem do Prince Buster, Sisters of Mercy que vem do Cohen ou Dead Cab For Cutie, que vinha duns Bonzo Dog…

O que seria necessário fazer para alterar essa tendência?
Era importante tentar olhar para a nova música que se faz em Portugal (e que está muitos furos acima de outros países) e tentar acarinhá-la um pouco mais (da parte da imprensa e das salas e promotores) e tentar comprar os discos e ir aos concertos.

Que balanço fazes destes dois anos de atividade?
Estes anos foram muito interessantes e estamos sempre a aprender muito. Foi importante sair várias vezes para Espanha e ter reações de fora para entender que afinal o que fazemos é relativamente ou muito bem feito e que temos que continuar a tentar marcar a nossa posição.

Estás sempre à espera de encontrar a ‘next big thing’?
Não acho que haja next big things e nunca entendi esse conceito. Há big things. Esse next é um epíteto que vai fabricar ou potenciar um hype e que é da exclusiva responsabilidade dos especialistas em especialidades. Uma coisa ou é boa ou nem por isso e normalmente não é por uma banda lançar um disco mais ou menos que depois vai lançar um bom. É como ires a restaurante e teres um prato com muito bom aspeto e muito bom sabor. Isso é a “big thing”. Se estiver ligeiramente salgado quer dizer que pode ser a “next big thing”? Nós só lançamos discos que nos deixam apaixonados e que achamos que a generalidade das pessoas devia ouvir e podia gostar, por isso todos os lançamentos, de um ou outro género, para nós são grandes.

De momento só representam bandas da zona? Gostariam de se estender para outros projetos e até para o estrangeiro?
Já houve várias propostas e algumas bem interessantes de nomes já com alguma dimensão e que a nível de imprensa e de impacto poderiam ter uma mais-valia mas, ao mesmo tempo, iam desvirtuar um pouco o conceito de montra de um determinado movimento, onde todos se conhecem e passam a ser como família. Tenho é muita pena que não se possam lançar dez ou doze discos por ano porque há material para isso. Talvez se alargue um pouco com os anos mas para já não pensamos nisso e o que gostaríamos era que cada região tivesse as suas editoras e que depois conseguíssemos trabalhar juntos para mudar a bipolarização da geografia musical portuguesa. Há, no entanto, uma exceção no catálogo de representações da Omnichord, que são os espanhóis La Inesperada Sol Dual, por uma simples razão: sempre que podem estão em Leiria, já cá tocaram várias vezes e sempre com imenso sucesso, vêm cá passar férias, fins de semana, aos eventos culturais… Adotaram esta cidade como sua. Para nós, passaram a ser locais.

A Omnichord Records editou recentemente disco de André Barros que estagiou nos estúdios dos Sigur Rós. Que portas se podem abrir para estes músicos portugueses que representas?
Curiosamente e em relação a alguns discos há melhores reações do estrangeiro que de Portugal, no festival Monkey Week os Nice Weather For Ducks e os First Breath After Coma foram consideradas na lista das melhores surpresas das últimas edições e os Les Crazy Coconuts foram distinguidos pela organização como o projeto musical mais original que viram em anos. Até hoje a rádio que mais passou Nice Weather For Ducks foi provavelmente a RNE3 espanhola, que os descreveu como “Animal Collective, mas com canções” e passou todos os dias, semanas a fio, vários temas do disco. Quem mais linhas lhes deu foi a francesa “Les Inrocks” que os destaca como banda a seguir e lhes dedicou meia página. Mas isto são interessantes mas pequenas incursões que senão forem sedimentadas num apoio português se tornam muito difíceis de produzir efeitos. Tens imensos exemplos de bandas que continuam numa “segunda divisão” e que deviam ser muito maiores e que resultam em qualquer parte do mundo, independentemente de cantarem numa ou noutra língua e de serem ou não instrumentais, assim de repente atrevo-me a dizer meia dúzia como A Jigsaw, Sensible Soccers, Osso Vaidoso, Ermo, Beatbombers e Throes+The Shine. A música portuguesa está cheia de valores incríveis e Leiria está pujante com o pós rock dos míticos The Allstar Project, o rock musculado dos Born A Lion (que vão lançar em março) e dos Horse Head Cutters, a indie dos Nice Weather For Ducks, dos First Breath After Coma e dos Les Crazy Coconuts, a folk surpreendente dos Bússola e o génio de composição do André Barros. E para além destes há muitos nomes a descobrir e outros tantos a crescer.

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